Sexta-feira, 17 horas, quartel-general
da empresa de segurança Cyberdyne. O telefone toca, alguma
secretária atende. Poucos segundos passam até que seja acionada a
força-tarefa. Um grupo pequeno significa chegar mais cedo em casa,
nada que dê muito trabalho. A missão é resgatar o velho
Nostradamus, que está doente em seu apartamento, e levá-lo a um
centro chiquérrimo de tecnomedicina. Deve ser bom ser milionário,
andar com dois seguranças armados e uma médica particular pra uma
simples visita ao consultório de um especialista.
McClane vai liderar; sujeito bem
apessoado, com aqueles cabelos brilhantes e olhos de camaleão,
sempre bem vestido, não fosse pelas várias camadas de roupa
blindada. John Raptis parece que vai à guerra, armado até os
dentes, fuzil, pistola, pele reforçada, nem parece gente. E a Dra.
Bones, essa não se dá bem com armas, gosta mesmo é de reviver
defuntos; pensando bem, nessa cidade não falta gente pra ela
consertar.
É só pisar na rua pra se lembrar que
toda noite é longa nesse inferno. O alarme começou com aquela
gritaria dele, que só serve pra apavorar os civis. É a beleza da
tecnologia, quando a sua segurança é feita por um computador
gigante, você não precisa saber do que está sendo segurado, só
sabe que deu merda. Confusão nas ruas (mais ainda do que de
costume), barreiras nas saídas dos distritos, brigas. 16 quadras até
a casa do velho, mais umas 20 até terminar a escolta. Com certeza o
cara tem um motorista, ou ele provavelmente vai morrer no caminho.
McClane resolve ligar pra um amigo na
polícia e pedir um helicóptero, que no meio dessa zorra toda é um
tiro no escuro, mas não custa tentar. “Alô, Jorge, aqui é o
McClane. Eu preciso de um helicóptero pra fazer a extração do
velho Nostradamus que tá doente. É uma emergência cara, não tem
nada que você possa fazer? Tá certo.” e desliga. “Vamos ter que
andar mesmo”, completa.
A confusão piora com o aparecimento
de uma gangue na quadra. “Vamos fazer alguma coisa a respeito
disso?”, a Dra, sempre pensando nas vítimas, parece preocupada. Os
soldados replicam, “A missão é mais importante, isso aqui é
trabalho da polícia.”, e tomam um desvio para não lidar com
aqueles meliantes.
Da segunda vez não têm como desviar,
os bandidos estão batendo em civis, e a cara de um dos coitados
parece que vai virar pudim. Como eles estão preocupados demais com
suas distrações, McClane decide se aproximar furtivamente, só pra
ser lembrado pela barulheira feita, que é um policial, não um
ladrão. E começa o primeiro tiroteio de sexta à noite. Nada como
um tiro no peito pra esquentar o sangue. A bala para no kevlar do
colete, mas o impacto é suficiente pra tirar qualquer um do
equilíbrio. McClane manteve-se em pé, mas não estava preparado, e
os tiros continuam a vir. “Taquepariu”, pensa, “cadê o
reforço?”.
Meia quadra atrás, protegido pelas
sombras, Raptic olha pela mira do seu fuzil, e toma seu tempo,
enquanto a Dra. Bones se esconde. Ela está preocupada com os civis,
mas se morrer, não consegue salvar ninguém. A autopreservação
sempre vence.
E é tiro pra lá e pra cá. McClane
atira no braço de um sujeito, toma outro no peito, e cai no chão
desequilibrado. Um outro maluco tem a perna destruída por um tiro de
fuzil. Esses caras não são espertos, um deles acaba de atirar no
companheiro. A Dra. corre pra verificar se McClane está vivo, e
ajuda o amigo a se levantar. Ora, se o cara morrer, ela também
morre.
Três bandidos caídos e ela acha que
é a hora de verificar os feridos, e sai correndo em direção aos
dois coitados, começa os primeiros socorros, e toma um tiro de
raspão na perna. O desespero bate quando ela vê o peito do agressor
ser aberto por outro tiro do Raptic. Ela não consegue se segurar, e
entra em choque. É preciso um esforço de McClane pra ajudá-la a
voltar a si. Eles não sabem, mas John Raptic passa por um choque
diferente.
Uma coisa interessante sobre a
psicose, é que você nunca sabe qual o gatilho dela. São muitos
implantes, sabe? É o suprimento de ar, o injetor de adrenalina, a
pele reforçada, e cada um deles vai subtraindo um pouco do que é
ser gente. A cabeça dele já não funciona normalmente, e agora ele
quase entrou em cyberpsicose. Olha de lado os gangsters caídos,
gemendo, e por um instante, seus dedos correm pelo cabo da faca de
cristal pendurada no cinto. Dessa vez ele consegue se controlar, e
segue o caminho.
Mais adiante encontram a barreira
policial, na divisa do distrito. As pessoas estão esperando que a
polícia libere a passagem. McClane não pode esperar, o cliente vai
estar morto quando conseguirem chegar. Apostando na sua autoridade (e
na fama do Nostradamus, claro), ele pede passagem, e é facil
convencer os soldados da gravidade da situação.
Agora só precisam chegar ao prédio
do velho, mas é claro que não pode ser simples. Trabalhar na mídia
só pode ser uma péssima ideia, o povo aglomerado na porta do
prédio, querendo explicações de um velho gagá sobre o que está
acontecendo na cidade é prova disso. Lá de dentro, o porteiro olha
desolado. A porta não abre, protocolo de segurança, ativado
automaticamente assim que o alarme foi acionado. Maravilhas da
tecnologia. E é por isso que se tem sempre um cientista por perto.
A Dra. Bones dissecou o sistema de
segurança como se fosse um cadaver. Não basta saber fazer, postura
é tudo. Em menos de 30 segundos a porta estava aberta, e os três
entraram e subiram até a porta do apartamento do velho Nostradamus.
Uma coisa interessante sobre a
psicose, é que você nunca sabe qual o gatilho dela. Duas batidas na
porta do velho, e ele grita lá de dentro pra irem embora. A Dra.
reconhece a loucura, e fica apreensiva, sua mão percorre o mala de
equipamento médico e encontra uma seringa. Mais duas batidas na
porta, McClane diz alguma coisa pro velho se acalmar, e outro gatilho
dispara, dessa vez na cabeça de Raptic, e a porta vai abaixo. Jogou
a merda no ventilador. Começou o segundo tiroteio de sexta à noite.
Assim que Raptic derrubou a porta,
levou tiro no peito, que parou no kevlar, atirou de volta e acertou o
velho. McClane se jogou no companheiro e tentou imobilizá-lo. Sempre
tente fazer o melhor de uma situação ruim, é o que dizem. E a Dra.
Bones correu em direção a Nostradamus. Médicos e seus pacientes,
não dá pra entender. O velho puxou o gatilho de novo, e acertou a
médica na perna, fazendo com que ela caísse. Assim que cai, confusa
pela dor, ela vê uma figura monstruosa correr e se atirar no velho,
e ouve o estalido de ossos se quebrando. Uma pistola vai ao chão.
Enquanto o velho se estrebucha, dando
socos e tentando se soltar de Raptic, que o segura, McClane entra
correndo, e parece que tudo se passa em câmera lenta. Bones está no
chão, perdendo sangue pelo ferimento de bala, tentando se injetar
com uma seringa de morfina. O monstruoso Raptic tá em cima do velho
Nostradamus, que tem um dos braços quebrados, e tenta atingir o
soldado com socos. De relance ele vê outro corpo, desconhecido,
caído num canto. O velho claramente está psicótico. Se é por
causa dos implantes, ou se é por causa da idade, o futuro dirá. O
que importa é que o cliente está seguro, e agora só precisa ser
levado de alguma maneira para o hospital. Tudo está bem quando
termina bem. Até a hora que não está mais.
Bones está imóvel. Tudo é muito pra
cabeça dela. Era pra ser uma tarefa simples, mas a dor é muita, e a
morfina agiu rápido demais. Sua visão fica turva, seus ouvidos
pulsam, ela sua. McClane corre e pega uma seringa que ele imagina que
seja de calmante na bolsa da médica. No desespero, tropeça e
derruba o instrumento.
Já tomou um soco na cabeça? Um dado
com vontade, daqueles de fazer zunir o ouvido? Raptic não sentiu dor nem nada, com aquela pele de rinoceronte dele, mas ficou irritado. Uma
coisa interessante sobre a psicose, é que você nunca sabe qual o
gatilho dela. Em um instante a missão está para ser cumprida, e no
instante seguinte o velho Nostradamus está caído no chão, morto,
com a faca Kendashi de Raptic entre as costelas.
Então McClane faz a única coisa que
pode ser feita. Procura uma bebida, e senta em uma cadeira em meio
aos corpos.
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