sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Cyberpunk 2.0.2.0

Sexta-feira, 17 horas, quartel-general da empresa de segurança Cyberdyne. O telefone toca, alguma secretária atende. Poucos segundos passam até que seja acionada a força-tarefa. Um grupo pequeno significa chegar mais cedo em casa, nada que dê muito trabalho. A missão é resgatar o velho Nostradamus, que está doente em seu apartamento, e levá-lo a um centro chiquérrimo de tecnomedicina. Deve ser bom ser milionário, andar com dois seguranças armados e uma médica particular pra uma simples visita ao consultório de um especialista.

McClane vai liderar; sujeito bem apessoado, com aqueles cabelos brilhantes e olhos de camaleão, sempre bem vestido, não fosse pelas várias camadas de roupa blindada. John Raptis parece que vai à guerra, armado até os dentes, fuzil, pistola, pele reforçada, nem parece gente. E a Dra. Bones, essa não se dá bem com armas, gosta mesmo é de reviver defuntos; pensando bem, nessa cidade não falta gente pra ela consertar.

É só pisar na rua pra se lembrar que toda noite é longa nesse inferno. O alarme começou com aquela gritaria dele, que só serve pra apavorar os civis. É a beleza da tecnologia, quando a sua segurança é feita por um computador gigante, você não precisa saber do que está sendo segurado, só sabe que deu merda. Confusão nas ruas (mais ainda do que de costume), barreiras nas saídas dos distritos, brigas. 16 quadras até a casa do velho, mais umas 20 até terminar a escolta. Com certeza o cara tem um motorista, ou ele provavelmente vai morrer no caminho.

McClane resolve ligar pra um amigo na polícia e pedir um helicóptero, que no meio dessa zorra toda é um tiro no escuro, mas não custa tentar. “Alô, Jorge, aqui é o McClane. Eu preciso de um helicóptero pra fazer a extração do velho Nostradamus que tá doente. É uma emergência cara, não tem nada que você possa fazer? Tá certo.” e desliga. “Vamos ter que andar mesmo”, completa.

A confusão piora com o aparecimento de uma gangue na quadra. “Vamos fazer alguma coisa a respeito disso?”, a Dra, sempre pensando nas vítimas, parece preocupada. Os soldados replicam, “A missão é mais importante, isso aqui é trabalho da polícia.”, e tomam um desvio para não lidar com aqueles meliantes.

Da segunda vez não têm como desviar, os bandidos estão batendo em civis, e a cara de um dos coitados parece que vai virar pudim. Como eles estão preocupados demais com suas distrações, McClane decide se aproximar furtivamente, só pra ser lembrado pela barulheira feita, que é um policial, não um ladrão. E começa o primeiro tiroteio de sexta à noite. Nada como um tiro no peito pra esquentar o sangue. A bala para no kevlar do colete, mas o impacto é suficiente pra tirar qualquer um do equilíbrio. McClane manteve-se em pé, mas não estava preparado, e os tiros continuam a vir. “Taquepariu”, pensa, “cadê o reforço?”.

Meia quadra atrás, protegido pelas sombras, Raptic olha pela mira do seu fuzil, e toma seu tempo, enquanto a Dra. Bones se esconde. Ela está preocupada com os civis, mas se morrer, não consegue salvar ninguém. A autopreservação sempre vence.

E é tiro pra lá e pra cá. McClane atira no braço de um sujeito, toma outro no peito, e cai no chão desequilibrado. Um outro maluco tem a perna destruída por um tiro de fuzil. Esses caras não são espertos, um deles acaba de atirar no companheiro. A Dra. corre pra verificar se McClane está vivo, e ajuda o amigo a se levantar. Ora, se o cara morrer, ela também morre.

Três bandidos caídos e ela acha que é a hora de verificar os feridos, e sai correndo em direção aos dois coitados, começa os primeiros socorros, e toma um tiro de raspão na perna. O desespero bate quando ela vê o peito do agressor ser aberto por outro tiro do Raptic. Ela não consegue se segurar, e entra em choque. É preciso um esforço de McClane pra ajudá-la a voltar a si. Eles não sabem, mas John Raptic passa por um choque diferente.
Uma coisa interessante sobre a psicose, é que você nunca sabe qual o gatilho dela. São muitos implantes, sabe? É o suprimento de ar, o injetor de adrenalina, a pele reforçada, e cada um deles vai subtraindo um pouco do que é ser gente. A cabeça dele já não funciona normalmente, e agora ele quase entrou em cyberpsicose. Olha de lado os gangsters caídos, gemendo, e por um instante, seus dedos correm pelo cabo da faca de cristal pendurada no cinto. Dessa vez ele consegue se controlar, e segue o caminho.

Mais adiante encontram a barreira policial, na divisa do distrito. As pessoas estão esperando que a polícia libere a passagem. McClane não pode esperar, o cliente vai estar morto quando conseguirem chegar. Apostando na sua autoridade (e na fama do Nostradamus, claro), ele pede passagem, e é facil convencer os soldados da gravidade da situação.

Agora só precisam chegar ao prédio do velho, mas é claro que não pode ser simples. Trabalhar na mídia só pode ser uma péssima ideia, o povo aglomerado na porta do prédio, querendo explicações de um velho gagá sobre o que está acontecendo na cidade é prova disso. Lá de dentro, o porteiro olha desolado. A porta não abre, protocolo de segurança, ativado automaticamente assim que o alarme foi acionado. Maravilhas da tecnologia. E é por isso que se tem sempre um cientista por perto.

A Dra. Bones dissecou o sistema de segurança como se fosse um cadaver. Não basta saber fazer, postura é tudo. Em menos de 30 segundos a porta estava aberta, e os três entraram e subiram até a porta do apartamento do velho Nostradamus.

Uma coisa interessante sobre a psicose, é que você nunca sabe qual o gatilho dela. Duas batidas na porta do velho, e ele grita lá de dentro pra irem embora. A Dra. reconhece a loucura, e fica apreensiva, sua mão percorre o mala de equipamento médico e encontra uma seringa. Mais duas batidas na porta, McClane diz alguma coisa pro velho se acalmar, e outro gatilho dispara, dessa vez na cabeça de Raptic, e a porta vai abaixo. Jogou a merda no ventilador. Começou o segundo tiroteio de sexta à noite.

Assim que Raptic derrubou a porta, levou tiro no peito, que parou no kevlar, atirou de volta e acertou o velho. McClane se jogou no companheiro e tentou imobilizá-lo. Sempre tente fazer o melhor de uma situação ruim, é o que dizem. E a Dra. Bones correu em direção a Nostradamus. Médicos e seus pacientes, não dá pra entender. O velho puxou o gatilho de novo, e acertou a médica na perna, fazendo com que ela caísse. Assim que cai, confusa pela dor, ela vê uma figura monstruosa correr e se atirar no velho, e ouve o estalido de ossos se quebrando. Uma pistola vai ao chão.

Enquanto o velho se estrebucha, dando socos e tentando se soltar de Raptic, que o segura, McClane entra correndo, e parece que tudo se passa em câmera lenta. Bones está no chão, perdendo sangue pelo ferimento de bala, tentando se injetar com uma seringa de morfina. O monstruoso Raptic tá em cima do velho Nostradamus, que tem um dos braços quebrados, e tenta atingir o soldado com socos. De relance ele vê outro corpo, desconhecido, caído num canto. O velho claramente está psicótico. Se é por causa dos implantes, ou se é por causa da idade, o futuro dirá. O que importa é que o cliente está seguro, e agora só precisa ser levado de alguma maneira para o hospital. Tudo está bem quando termina bem. Até a hora que não está mais.

Bones está imóvel. Tudo é muito pra cabeça dela. Era pra ser uma tarefa simples, mas a dor é muita, e a morfina agiu rápido demais. Sua visão fica turva, seus ouvidos pulsam, ela sua. McClane corre e pega uma seringa que ele imagina que seja de calmante na bolsa da médica. No desespero, tropeça e derruba o instrumento.

Já tomou um soco na cabeça? Um dado com vontade, daqueles de fazer zunir o ouvido? Raptic não sentiu dor nem nada, com aquela pele de rinoceronte dele, mas ficou irritado. Uma coisa interessante sobre a psicose, é que você nunca sabe qual o gatilho dela. Em um instante a missão está para ser cumprida, e no instante seguinte o velho Nostradamus está caído no chão, morto, com a faca Kendashi de Raptic entre as costelas.


Então McClane faz a única coisa que pode ser feita. Procura uma bebida, e senta em uma cadeira em meio aos corpos.

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