sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Jorge 8 - Cavalos de andar na areia

Na minha tribo não existem magos, feiticeiros, bruxos, essa trupe toda. Somos um povo simples, caçamos o que vamos comer, e protegemos uns aos outros. Então eu tenho dificuldade pra entender como magia funciona, mas hoje já estou acostumado a ver funcionar. E ca estou eu, sentado confortavelmente sobre meu lindo pônei, na beira de um deserto, acompanhado dos mesmos de sempre, e eu agora até sei o nome deles. O mago Raptic, a ladina Lorivana, a patrulheira Irina, e um paladino... Esse paladino saiu de onde? Uma vez tinha um bardo... Penso comigo mesmo: "O tempo é convoluído nessa terra de Lordram". Não sei o que essas palavras significam, não mais do que de onde diabos esse povo sai, e pra onde eles voltam...

Começamos a cavalgar com dificuldade na areia. Os pôneis caminham lentamente. O calor tá demais. Vimos um homem se aproximar, coloco a mão no cabo da minha espada, e vejo o homem guiar vários animais pela areia. Ele vem na nossa direção, e quando chega perto consigo ver melhor os bichos. São uns cavalos muito feios, coitados. Têm a perna fina, um rabinho mixuruco, o pescoço deformado e duas barrigas viradas pra cima! Achei curioso, nunca tinha visto cavalo assim, parece que já vem com lugar de montar! Disse o moço que são pra andar na areia, e que os nossos pôneis não vão chegar muito longe. Preciso pagar 2 moedas douradas pra pegar emprestado esse cavalo de andar na areia, mas o que eu vou fazer com o Christofar? Ele não pode ficar sozinho nesse mundão, vai ficar perdido! E o sujeito falou que podia me emprestar o cavalo por 1 moeda, e ele cuidava do Christofar pra mim. Achei suspeito, mas todos os outros resolveram acreditar no cara, menos a Lorivana, que queria mais desconto, e acabou por convencer a Irina que ia cavalgar junto com ela, as duas no mesmo cavalo. Sorte dela que é pequeninha. O que eu queria saber mesmo é como que eu vou fazer pra pegar meu pônei de volta, e o cara disse que ele tem maneiras de resolver isso. Acho que tem magia envolvida, deixa pra lá...

Vamos nós e esses cavalos estranhos pelo deserto afora. Deixamos os cavalos nos guiarem mais ou menos, porque o cara falou que eles sabem pra onde a gente tem que ir. E vamos.

Vira pra cá, vira pra lá, o ritmo vai bem, e nos deparamos com uma cidade destruída. Ao longe, mas não tão longe, na verdade mais ao perto mesmo, consigo ver pessoas... Pessoas com rabo, e cara de bicho, e pele de bicho... E eles já querem reclamar que estamos no lugar que não podemos. Terra da dona Margarida. Todo mundo tem terreno separado nesse país aqui. Lá na minha tribo o terreno é de todo mundo ao mesmo tempo. O Grumj traz a plantação, Darmuk traz a caça, Marriahgr faz sopa de tirar doença, todo mundo come junto...

Passamos por cima das pessoas-bichos com os cavalos, dei uma espadada na cabeça de um deles, os outros resolveram-se com os meus colegas. E segue a vida. De vez em quando eu estudo meu livro de palavras. Debaixo do sol, acima da areia, não é muito fácil saber pra onde vamos, e os cavalos se guiam sozinhos. Até que conseguimos ver de longe, longe mesmo,  mais um grupo de lacaios da dona Margarida! E aí paramos antes deles nos verem. E aí fazemos um plano. Quer dizer, eu não fiz nada, o paladino decidiu com a Lorivana que eles iam pegar os caras desapercebidos. E aí tudo ficou embaçado. Eu tava pensando como que esse cara ia fazer pra pegar alguém no mundo despercebido, com essa armadura que até surdo ouve quando ele anda. Foi quando o impensável aconteceu. O CARA TIROU A ARMADURA! E foi ele trotando feliz e pelado, acompanhado pela Lorivana. E deixaram o resto de nós só olhando, descrentes, vendo aquela bunda branca dele reluzindo ao sol...

É óbvio que deu errado. Fosse eu, podia ter funcionado, porque eu estou acostumado, tenho a pele grossa, e com a benção da deusa, resisto a qualquer coisa. Esse sujeito com pele macia de humano, não vai muito longe com a bunda de fora... E não foi mesmo. Fez furdunço por causa de alguma coisa, alertou os caras, começou a briga... Irina viu tudo com os olhos grandes de elfa dela, ela vai saber contar melhor, mas o que importa é que ela avisou, e comandamos os cavalos pra correr em direção à treta! O paladino tava bem arriado quando eu cheguei, e a culpa é toda dele.

Depois disso, estava limpando a minha espada, o paladino tinha ido lá atras buscar a armadura dele e os cavalos dele e da Lorivana, que tá fuçando cada buraco de flecha no corpo dos fulanos procurando moedas, e a dona Margarida aparece. Uma humana, claro, esse povinho gosta de bagunçar. E ela diz que gostaria que a gente a seguisse. AH MAS NEM FUDENO! Falei mesmo que não ia, que meu barato era outro, que eu tinha que ir pro castelo do mago louco. E ela meio que implora, e eu percebo uma sombra na areia. Com o rabo do meu olho, percebo um escorpiãozão maior até que o mago elfo... E deu uma desconfiança de onde tinha aparecido esse escorpião, que ninguém percebeu, nem a Irina, com aquela orelhona dela. Vamos atras da mulher, e ela nos guia por escadas que vão chão adentro pra uma pirâmide. Do lado de dentro, um salão muito bem decorado, cheio de copos dourados, pratos dourados, moedas douradas...

Eu olho, e a mulher tá mantida da cintura pra cima, porque pra baixo ela parece bicho agora, parece uma leoa... Ah, mas eu sabia que essa dona Margarida só tinha nome de flor mesmo, porque não é pra se cheirar, é pra se cortar no fio da espada! Briga boa... Mulher maluca, de onde você saiu? Eu não gosto de ser enganado assim, não entendo magia. Mandei a mulher pro fundo do abismo... Agora, pra onde é que a gente tem que ir mesmo?