sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Jorge 10 - Cadê a escada?

Os outros tão mais ferrados que eu, se for possível. Todos sentiram o calafrio, ninguém sabe o que é, e agora todos nós estamos olhando pra essa enorme escada, e decidimos subir. No alto da escada eu abri uma escotilha, e ao entrar, pisei em terra e grama. Olhando pra cima, vi o céu, nuvens, e senti o cheiro do ar úmido de um lugar fora do castelo, mas que não é no deserto também. Quê? Não sei...

Levou um tempinho pra acostumar com essa ideia aqui. A escada se foi, a escotilha sumiu, sei lá cadê, e aí não dá pra voltar mais. Só nos resta ir adiante. Ouço um barulho ao longe, e vejo fumaça no céu. Olho para baixo, procurando o fogo, talvez uma vila foi incendiada, mas o que vejo só pode ser descrito como minha mente me pregando uma peça. Uma enorme cobra se arrasta no horizonte. Ela solta fumaça pela cabeça, e parece que recebeu uns cortes de algum tipo de espada no corpo, mas continua firme em seu caminho arrastado. Nunca ouvi falar em cobras desse tamanho, e na verdade tenho mais receio da espada que fez esses cortes do que da criatura.

No alto do céu vemos uma letra escrita. Raptic diz que é a letra do mago que queremos encontrar, aquele que a gente tava dentro do castelo dele, e agora não estamos, e não sabemos voltar pra dentro dele, e vamos em direção à letra. Uma carroça passa quase por cima de mim, mas não pode ser possível, porque ela não tem cavalos, e mesmo que tivesse, não existem cavalos que galopam tão rápido. Onde é que eu vim parar?

No caminho eu vi 5 lobos. No momento em que os vi, a fúria de Alihanna se acendeu em mim. Esses lobos não eram criaturas da deusa, não mais. Foram modificados por algum tipo de magia maligna que fez parte de seus corpos serem como aço. Pernas metálicas que soltam fumaça ao se mover, mandíbulas metálicas, todas as criaturas mudadas... É meu dever dar paz para as criaturas afetadas por essa magia demoníaca.

Com a minha espada e a ajuda dos meus companheiros, um a um os lobos dormem o sono eterno de Alihanna. Paz para o espírito bestial de todos eles. Que eles se encontrem inteiros e intactos nas grandes florestas e campinas da deusa...

Andamos até chegar em uma cidadezinha. Minha raiva ainda não tinha diminuído, mas o que se pode fazer quando se está andando sem rumo em uma terra desconhecida?

E qual não foi a minha surpresa ao ver que muitas das pessoas estavam sofrendo dessa maldição metálica... Será que esse mago Edrian sabe que isso tá acontecendo dentro da casa dele? Cada vez que essas pessoas se mexem  sai uma fumaça da parte metálica. Será que eu só vejo isso porque sou de outra terra?

Algumas pessoas chegam na cidade, do lado contrário ao qual chegamos, e os que parecem ser os moradores, começam a entrar nas casas, e se esconder. Um dos caras fala que quer pagamento do tributo que a cidade deve à gang dele. Estranho. O que seria uma gang? Não estamos gostando nem um pouco do jeito que esse cara fala, então dizemos que é melhor pra ele se deixarem essa cidade em paz. E ele pega uma caixinha no bolso, e aponta ela, e uma luz vem na minha direção. Esse sujeito realmente quer me iluminar nessa hora que eu to fazendo minha pose imponente segurando a espada? Outros estão segurando chicotes, mas toda vez que o chicote estala, um raio aparece nele todo. Hmm... Muito estranho...

Bati muito nesses tal gang. A cidade tomou vida de novo, as pessoas começavam a aparecer nas ruas, todas felizes e saltitantes porque os bocós tinham sido derrotados.

E agora estamos em uma taverna, fomos empurrados pela multidão, e estão nos comprando bebida e comida como se fossemos famosos ou algo do tipo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Jorge 9 - Abutres na areia.

Descanso dos vitoriosos sempre é bom, mas nem sempre é sentado do lado do cadáver da mulher leão que você acabou de matar... Na guerra a gente fica com o que tem; lá fora tá um sol da moléstia, aqui dentro tá um pouco mais fresco, e ainda é na sombra...

Tô vendo a Lorivana e o Raptic olhando bem de perto toda a decoração da casa, cada copo dourado, cada prato... Eu já tenho meu copo de colocar água, não preciso desses outros; o meu ainda por cima tem tampa, aí a água não cai quando eu viro ele de cabeça pra baixo. Esses outros copos eu só vi lá no castelo do rei anão, aquele que me deu o Christofar... O rei... O rei pai do Clóvis! E lá vem a Lorivana me dizer pra colocar todos esses copos na mochila. Pra quê, se eu já tenho um copo? Mostro a ela o meu copo, falo que não precisamos dessas coisas todas, mas ela tá muito preocupada da gente deixar tudo aqui... Lembra que antes foi a mesma coisa com as moedas? Eu acho que essa halfling tem um problema com coisas brilhantes. O Raptic também vem me dizer que acha que a gente tem que levar tudo. Eu nem sei se vai caber tudo na mochila. Esses dois tão ficando é loucos, mas vá lá, deixa, depois a gente vai precisar colocar uma coisa realmente importante na mochila, e não vai caber, porque tem uma cozinha inteira aqui dentro!

Olhamos a cozinha da dona Margarida, e alguém me diz que tem uma alavanca de puxar. E a Lorivana tá lá olhando bem de perto e apalpando a alavanca, acho que ela é muito pequena pra conseguir puxar, coitada. Ainda bem que Jorge está aqui! Chego heroicamente e, com uma mão só, puxo a alavanca! Ela mal consegue acreditar no que eu fiz! Vejo seus olhos se arregalarem de espanto... Fico feliz de ter ajudado uma companheira, mesmo que seja depois dela ter enchido a nossa mochila com copos inúteis...

O chão tá abrindo! Gente, o chão tá abrindo! ABRIU O CHÃO! Ó, uma escada... Vamos descer a escada? Tá todo mundo de acordo com a gente descer a escada que abriu no chão da cozinha da casa da mulher leoa que acabamos de matar? Tá bom então, vamos descer a escada... Eu vou na frente, já que estou me sentindo heroico hoje. Mas alguém vai lá fora antes pra buscar meu cavalo! Beleza!

Desci a escada, que terminou em um corredor. Está bem escuro, mas meus olhos de anão conseguem ver perfeitamente. E eu vejo que esse corredor não tem teto, ou se tem, não dá pra ver. E eu vejo os musgos nas paredes de pedra, as teias de aranha que vão até lá em cima, e até o chão. E eu vejo o chão transparente, de algum metal que não conheço, e por baixo, eu vejo cabeças de defuntos, mortos há muito tempo. Cabeças de muitas espécies diferentes, todas amontoadas debaixo desse chão invisível. Lorivana acende uma tocha, esqueço que ela não tem essa dádiva da visão.

E vamos andando. Andando... Andando...

Andando...

Andando...

Andando...

E essa porcaria não acaba! Eu juro que agorinha eu vi uma pessoa dentro da parede! Mas a parede é de pedra, não dá pra ter gente lá dentro, dá? Não sei, mas que eu vi, eu vi. Droga de túnel. Eu sinto que já tem 5 dias e meio que to andando sem parar aqui dentro. Tômuitoirritadomesmonãoseicomoqueeuaindanãomateiumdessescarasaquinesseescuro.

Cinquenta e sete dias depois, saímos desse inferno, graças à Paçoca, que me disse que era melhor continuar andando em frente do que voltar esse pedaço todo. Puxei outra alavanca, e abriu uma saída. Nunca se sabe o tanto que o sol do deserto faz falta até ficar 3 anos dentro de um túnel.

Bem na nossa frente, um enorme castelo. Parece que tem uma camada no ar, com uns desenhos. Os cavalos não vão adiante, então desmonto e vou caminhando na areia em direção à camada. Um velho aparece, e já sabemos o que vai acontecer. Ele fala "quantas maçãs dá pra colocar num cesto?", e já respondo, porque essa eu sei: são oito! Eu sei disso porque uma vez fui colher com o Grumj. Imediatamente a areia começou a se remexer debaixo dos nossos pés, e vamos afundando aos poucos. Do meio da areia pulam duas harpias e começam a nos sobrevoar. Ah, esses abutres... Como eu ODEIO abutres! Carniceiras malignas, enganadoras, sereias dos ares! Difícil bater em harpias que voam enquanto você se afunda no meio do deserto, então pego uma delas pelo pé de galinha, e isso me mantém o suficiente, o problema é manejar a espada e segurar essa maldita ao mesmo tempo.

Lorivana vai se afundar completamente em pouco tempo. Não estou preocupado com os outros, são elfos e quase elfos. Embainho minha espada e grito pra ela se segurar na minha mão, e uso minha força pra puxá-la e lançar com cuidado no dorso da harpia. Deu certinho, se cooperassem, as harpias seriam ótimas montarias voadoras para halflings, mas harpias só servem mesmo pra virar cadáver. Lorivana penetra sua espada no pescoço da criatura, e Raptic tostou a outra. Assim que morreram as abutres, a areia fez questão de nos levantar, e a camada do ar desapareceu.

Entramos no castelo. Escuridão total. Não consigo ver meus companheiros. Nunca passei por isso. Não sei o que esperar. Não consigo ouvir ninguém também. Uma luz verde começa a iluminar o salão. Do outro lado vejo um anão, quase do meu tamanho, quase do meu porte. Sinto nele a fúria dos anões das profundezas, e já sei que minha guarda não pode se abaixar nesse momento. Lutamos ferozmente em combate singular, e a cada golpe da minha espada, ele parecia ficar maior. Até que tinha o dobro do meu tamanho. Sinto o sangue na garganta, minhas pernas bambeiam. Solto um urro de dor. Alihanna me dê forças. Giro a espada mais uma vez, quase morto, mas melhor que esse outro anão, que está totalmente morto. As luzes se acendem, vejo os outros agora, e sinto um calafrio. Um mal agouro. Como se o vento tivesse passado através de mim, e por um instante senti medo.

Lorivana 1 - O Castelo de Erian



Depois de derrotar aquela mocreia que nos enganou, acabamos por descansar um pouco. Ela tinha cara de ser gente boa, mas acho q não ficou muito contente depois q matamos seus guardas.

Pois bem, estávamos dentro de uma pirâmide e não tínhamos muito pra onde ir, só havia muitos tesouros, ouro, prata, tudo de bom e uma alavanca ali no canto. Enquanto Raptic estava experimentando as joias, eu fui juntando o que eu ia levar. Sabe como é, só o essencial. Algo no valor de 300 peças de ouro ia servir, talvez eu até guarde umas joias para me enfeitar quando essa confusão toda acabar. O problema mesmo foi tentar convencer o anão a me deixar colocar o tesouro lá dentro. Ele não estava a fim de colaborar e eu não tenho paciência com gente assim, a minha sorte (talvez) foi o Raptic entrar na conversa para convencer Jorge a colocar todos os metais em nossa bolsa mágica, o único ônus foi ter de dividir com ele metade dos tesouros, mas tudo bem, provavelmente pilharei e saquearei mais gente no caminho para aumentar minhas riquezas. Eu fico indignada com algumas coisas. O Jorge pode colocar o gato dele lá dentro e 30 litros de água, mas eu tenho de pedir permissão pra colocar só 50 Kg de ouro e prata? Vai entender...

Eu investiguei os arredores em busca de armadilhas, mas não encontrei nenhuma. Mal dei o sinal de segurança e Jorge já estava puxando a alavanca. Ele é sempre tão impulsivo! 

Após o ato do nosso companheiro, uma escadaria revelou-se e seguimos por ela com nossos camelos atrás. Caminhamos por horas e horas e eu já estava ficando cansada, mas pelo menos não estava ficando louca como os rapazes que pareciam até enxergar vultos. Raptic parou um pouco para meditar ou sei lá o que esses magos fazem, eu o acompanhei para descansar os pés, mas Jorge estava destinado a seguir em frente. Parecia que aquele túnel não tinha fim, não tínhamos noção de tempo nem de claro ou escuro, mais algumas horas lá dentro e eu ficaria louca, certamente.  Entramos num dilema se seguiríamos ou voltaríamos. Eu queria voltar, pois estava desconfiada que aquele túnel poderia ser outra armadilha para nos deixar presos para sempre, mas Jorge usou sua conexão com os animais que se manifestou através da sua gata. Ela deu sinais de que seria melhor continuar em frente e quem sou eu pra desconfiar dos instintos de um bichano? Eles são quase como nós, ladinos.

Andamos mais um pouco e outra alavanca. Jorge a puxou e finalmente! Ar fresco e a claridade natural. Ainda bem que era por do sol, porque não machucaria muito meus olhos depois de passar horas ininterruptas dentro de uma caverna escura. Além disso, lá estava o que procurávamos: a Torre de Erian. Depois de uma longa jornada pelo deserto, poderemos ter um descanso digno com comida boa e água. Tudo parecia ir muito bem até que PÁ! Demos de cara com uma barreira mágica invisível. E quem estava lá para nos receber? Aquele velho decrépito da caverna dos anões e suas charadas. Quantas maçãs cabem numa cesta vazia? Eu lá raios sei? Isso depende do tamanho da maça e eu, que costumo ser bem inteligente, já estava de saco cheio daquilo tudo. Por um desentendimento eu ouvi o velho falar  “quantas maças vazias cabem dentro de uma cesta” e acabei respondendo que nenhuma, pois maça vazia não existe, portanto cabem nenhuma. A minha sorte é que ele era justo e percebeu que eu havia entendido errado, porém antes de tentar responder pra valer, Jorge já jogou na cara dele um “OITO” e pronto, né? A areia começou a puxar nossos corpos para baixo e duas monstronas apareceram do nada. Valeu, Jorge. Pelo menos ele disse a resposta antes do combate. Uma maçã. Por quê? No momento em que você coloca uma lá dentro, a cesta deixa de ficar vazia. Pelo amor de Robin, que resposta mais sem noção! Mas aquele não era o tempo de combater charadas ambíguas com lógica.

Eu não estava indo bem nessa batalha, o que me frustra muito, especialmente pela a ideia de talvez morrer, o que não podia acontecer, e ainda por cima estava afundando na areia. Jorge conseguiu agarrar a pata daquela periquita gigante eu pensei em fazer o mesmo, mas a vadia me chutou forte. Sentindo me cada vez mais fundo na areia, eu não conseguia livrar-me e o desespero aumentava, até que Jorge gritou “Segura minha mão!” e num puxão me jogou pra cima daquele bicho. Puxa, obrigada, Jorge... Eu devo esta a ele de coração. 

Ao olhar para o lado, Raptic consegue matar uma delas, agora era a minha vez. Sem perder tempo, eu cortei a cabeça daquela monstrenga com a minha rapieira e, junto com elas, a areia movediça começou a desaparecer. Aquele velho nojento também. Algo me diz que voltaríamos a nos ver, para nosso azar. Eu saí da batalha um caco, mérito meu que eu comprei uma poção de cura e bebi antes de aparecer outro inimigo a frente.

Ao chegar na porta do castelo, fomos alertados que de que enfrentaríamos muitos medos, mas que uma recompensa gratificante nos aguardaria. A mesma balela de sempre. Abrimos a porta e nos deparamos com um breu assustador. Um escuro aterrorizante na verdade... Eu não sei porque, mas me veio a cabeça a visão de um mago abrindo um vórtex para me sugar para dentro e eu senti muito medo. Não conseguia ver nem ouvir meus companheiros, até que uma luz amarela formou-se a minha frente. Um relance de esperança passou por minha alma e logo morreu ao ver a luz transformando-se num gobling horrível. Encurralada, foi o que me senti. Eu sou muito melhor em combates em grupo, onde posso atacar furtivamente ou me afastar, mas sozinha? E agora? Tenho de enfrentar essa besta.

A batalha está sendo árdua e eu perdi muito sangue e mais um golpe perco a vida. Todo meu esforço para chegar até aqui será em vão? Minha família nunca mais poderá me ver por causa dessa criatura nefasta? Não permitirei. Levantei minha rapieira, presente do rei dos anões, e, com um golpe certeiro, empalei o coração daquele monstro. Vitória. Alívio. Ele caiu e se desfez, logo após o castelo se encheu de luz e pude ver meus companheiros igualmente feridos.

~Guta.