domingo, 14 de fevereiro de 2021

Cartada do Destino 1 - O que é uma taverna?

Vou contar exatamente o que aconteceu.

Estávamos eu e minha irmã, Raven, sentadas no lugar mais isolado que pudemos encontrar nesse infeno chamado Baldur's Gate. É um lugar que chamam de taverna, na língua deles, onde podemos trocar as moedas brilhantes que encontramos nas catacumbas por comida e bebida. Raven vem dizendo que eu devo me acalmar, e que muitas coisas boas podem acontecer ainda nessa viagem, mas eu vejo o verão nos olhos e nos cabelos dela, ela também está apreensiva com essa multidão toda, com essa sujeira toda, com esse concreto todo... E eu sei que ela também ficou chocada quando os mortos se levantaram naquela caverna onde encontramos o infeliz que queria nos roubar, coitado. Ela acha que ainda consegue me enganar com as palavras dela, sendo que passamos os últimos cento e três anos juntas... Ou talvez ela só esteja sendo irritantemente otimista... Deve ser por isso que ela é a raínha, e eu sou a sacerdotisa, o trabalho dela é não deixar com que o povo se desespere. O único problema é que não temos um povo... E o meu trabalho é ficar em silêncio e ouvir o que querem os deuses (e prestar atenção no que os outros estão fazendo, pra proteger a minha irmã, mas isso não foi Selênia quem me ensinou).

Além de nós duas, várias outras criaturas entravam e saíam da taverna, e eu me atentei principalmente em dois... Seres... Que bebiam bastante. Imagino que eles estejam acostumados a chamar tanta atenção, não estavam fazendo esforço para não serem notados, apesar de que é uma dupla dificil de se esquecer; um gnomo e um tiefling (parece ser alguma espécie de demônio, do tipo que eu lia nos pergaminhos de Corellon). O outro que estava lá há mais tempo parecia cansado, talvez precisasse de um tempo pra ele. Esse último tem as orelhas pontudas, quase que tanto quanto as nossas, mas em geral ele se parece mais com o humano que tras a comida do que com nós duas. Eu não sabia que haviam tantos tipos diferentes de pessoas no mundo. Penso em todas as coisas que eu poderia ter aprendido, se não tivesse vivido todo esse tempo em Faéria.

A confusão começou com um senhor que entrou na taverna ordenando que todos deviam parar de beber, porque os deuses se chateiam com a bebida. O que esse homem sabe sobre os deuses? Julgando pelo semblante dele, não tem nem a metade da minha idade, e eu que vivi um século aprendendo sobre os deuses não saberia dizer o que querem ou não. Bem que eu aprendi que humanos são presunçosos, e devem ser evitados.

Bom, o que aconteceu foi que os dois beberrões não gostaram do que o homem disse, e começaram a discutir. Sacaram as armas, e iam começar a brigar... E aí eu resolvi intervir. Pensei que podia desmaiar o humano, já que geralmente são bem frágeis, e deixar ele dormindo em algum canto enquanto terminávamos de comer, mas ele não caiu com a minha técnica, e além disso, ainda destruiu a taverna inteira com uma técnica luminosa, parecida com algumas coisas que a minha irmã faz. Ele foi morto contra a minha vontade... Foi o gnomo que o matou, nome dele é Malen... Eu teria poupado a vida dele, já que ele tinha tão pouco pela frente.

Foi depois disso que apareceram os guardas, e disseram que teríamos que conversar com o líder deles... Eu pedi que trouxessem um fauno para tentar salvar o humano, mas não me ouviram. Esses humanos só pensam em si mesmos, não sei como há tantos deles ainda, e estão sempre indo a algum lugar apressadamente.

Não vou dizer tudo que penso de humanos, ficaríamos aqui mais algumas gerações deles, pobres vida-curta.

O tal chefe, Zod, queria nos prender a todos, o que seria uma grande injustiça, sendo que todos que estavam presentes sabiam que o assassino foi o gnomo Malen, mas acabou mudando de ideia. Ele nos ofereceu um trabalho. Não antes do próprio Malen tentar criar uma magia bem debaixo do nariz desse tal Zod. Disse que precisava de um grupo de mercenários para procurar umas bruxas. Nem precisei olhar pra Raven, pra saber o que ela estava pensando, mas isso é porque nós conversamos por telepatia... É claro que vamos caçar bruxas, elas devem ser, inclusive, lacaios de Azula Doux, a bruxa que destruiu o reino da nossa mãe, o reino de Silrandell. Conversamos entre nós, e nos apresentamos, ou tentamos, não sei se todos estavam em sintonia, porque esse Malen ficava nos chamando de "fadinhas"... Ele deve ter dificuldade com nomes.

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